“Quando aquele garoto abriu a caixa, nunca mais pôde voltar pra contar o mistério que aquela caixa continha. Seu corpo e alma foram sugados para as profundezas de algum além desconhecido... Provavelmente o inferno ganha mais um pecado…”
O tédio consumia tudo e a todos naquela cidade, um ar moribundo rondava em cada esquina. Olhares vazios, corpos apodrecendo em plena existência, vozes silenciosas clamando por algo além daquele marasmo. A cidade parecia esquecida no tempo, as pessoas que a habitavam ficavam doentes ou enlouqueciam sem motivo aparente, muitas cometeram suicídio: uma menina se jogou do quinto andar em pleno dia, seu corpo ficou ali exposto como uma atração, a expressão de seu rosto era de alívio. Um menino atirou em sua cabeça com um calibre 38, parte de seus miolos estavam ainda frescos nas paredes quando encontraram o corpo. Uma mulher foi encontrar morta na banheira do apartamento onde morava, ela ainda segurava os frascos de remédio, os legistas constataram uma overdose. Todos esses casos eram freqüentes naquela cidade.
Naquela cidade existia uma loja de antiguidades que pertencia a um mágico que outrora fora muito famoso, mas o tempo e perda de imaginação daqueles cidadãos fez com que caísse em esquecimento. Sua loja era visitada apenas por pessoas que detinham um senso de imaginação ou em busca de alguma fuga daquela realidade deprimente que cercavam a todos. Um dia o mágico recebeu a visita de um forasteiro que usava uma máscara de aspecto medonho.
O forasteiro não revelou muito sobre si, mas antes de partir disse tais palavras para o mágico: “eu sei o que se passa em seu coração, você tem cara que vai enlouquecer a qualquer momento. Como todos dessa cidade você também se sente vazio, e sua vida já não tem um sentido. Cada segundo que se passa é um vazio se expandido mais e mais, as pessoas perderam o encanto. Você se encontra muito próximo de seu fim, mas você não quer morrer, não é mesmo? Você sente que não realizou por completo sua existência como mágico, que ainda não conseguiu seu grande número…” O mágico acordou com uma voz o chamando, era um menino que nunca tinha visto naquela cidade. O garoto parecia absorto em todos os objetos da loja, mas apenas um chamou sua atenção. “Eu quero essa caixa”, disse o menino. Mas o mágico parecia perdido em seus próprios pensamentos, tentando entender se o que acontecera. Uma fração de segundos aquele forasteiro, aquela sensação de ter dormido e despertado… “Eu quero essa caixa” disse mais uma vez o menino. Caixa, caixa, cai…xa! Não toque nessa caixa!... Porém já era tarde demais. Apenas o grito de agonia e mais uma alma para sua coleção.
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